A torcida inglesa em 15 de fevereiro de 1995 |
O futebol está diretamente ligado à
história mundial e a intensidade com que as partidas são disputadas e
comemoradas são, na maioria das vezes, reflexos de antigos antagonismos.
O sempre intenso confronto entre
Inglaterra e Irlanda, que não acontecia desde 1995, traduz bem as brigas
territoriais e o sentimento de patriotismo. As duas nações brigam pelo domínio
da Irlanda do Norte, de maioria protestante (a favor da manutenção do país no
Reino Unido), mas com uma considerável quantidade de católicos (defensores da
união com a República da Irlanda).
Essa briga na decisão pelo futuro da Ulster (Irlanda do Norte) resultou em
milhares de mortes devido a ataques terroristas do IRA - Exército Republicano
Irlandês - e do marcante Domingo Sangrento de 1974, quando policiais ingleses
interromperam à tiros uma manifestação pacífica de católicos na Irlanda do
Norte.
Esse sentimento de aversão ao outro foi
levado para dentro de campo em 15 de fevereiro 1995, em um confronto justamente
entre as duas nações, na cidade de Dublin (capital da República da Irlanda, a Eire). No momento em que as caixas de
som começaram a tocar o famoso hino inglês, God
Save The Queens, vaias por parte dos irlandeses ecoaram por todo o
estádio e foram respondidas com gritos neonazistas contra a revolução proposta
pelo IRA.
Os capitães, Ashley Cole e Robbie Keane, se cumprimentando em 2013. |
A briga prevista no momento dos hinos
se iniciou quando depois de David Kelly abrir o placar para os donos da casa, o juiz anulou um gol inglês. Com isso, os devotos da rainha depredaram o
estádio e devido a uma falta de organização do amistoso (que não teve nada de
amistoso) tiveram acesso à torcida rival. Mesmo com a intervenção da polícia 20
pessoas foram feridas naquele dia e o jogo teve que ser cancelado.
18 anos depois do acontecido no
estádio Lansdowne Road, em Dublin, as duas seleções voltaram a se enfrentar,
desta vez no Wembley (Inglaterra) e por mais que a Inglaterra fosse superior, o
jogo terminou empatado em 1 a 1 com gols de Lampard e Shane Long. Irlandeses
deram o sangue naquele jogo e o placar, de certa forma, agradou a todos.
Não sei reconhecer os culpados e as
vítimas daquele dia de 1995, simplesmente por não viver na pele o conflito pela
situação da Ulster com o Reino Unido.
Entretanto, tenho total convicção que a absurda violência daquele dia não casa
bem com o futebol.
Por mais interessante que esse
episódio possa parecer, uma vez que traduz momentos da geopolítica dentro dos
gramados, foi mais um triste capítulo da história do futebol mundial.
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